Com lâminas de apontador e de barbear, meninas entre 11 e 13 anos estariam praticando automutilação, em Rio Branco, no Acre. Três mães, que entraram em contato com a equipe do G1,
mas preferiram não se identificar, informaram que ao menos 10 crianças
estariam se cortando, no que elas chamam de 'pacto de sangue'. Segundo
uma das mães, ela teria ficado sabendo do ocorrido, após receber uma
ligação da direção da Escola Alcimar Nunes Leitão, localizada no bairro
Universitário, onde suas duas filhas estudam.
"A escola me ligou, quando cheguei na coordenação do colégio havia uma
relação com o nome de pelo menos 10 crianças. Em cima dessa lista, tinha
uma lâmina de barbear e a lâmina de um apontador, ainda com sangue. A
coordenadoria ligou para os pais de todas as meninas", relata.
Segundo a mãe, os adolescentes do colégio estariam se cortando e
estimulando uns aos outros a fazerem o mesmo. "Uma outra mãe me disse
que as meninas continuam fazendo isso. Que agora elas fazem um círculo,
uma se corta e se a outra não tiver coragem, outra pessoa corta ela. Já
me falaram que elas chupam o sangue uma da outra. A minha filha não fala
sobre o assunto, quem me contou sobre o pacto foi o meu sobrinho",
afirma.
A mãe conta ainda que a filha mais velha, de 13 anos, começou a se
automultilar na esperança de ficar popular entre os colegas. Já a mais
nova, de 11, estaria fazendo isso porque se sentia sozinha.
De acordo com a estudante, de 11 anos, que se cortou duas vezes, a
prática era feita até mesmo dentro da sala de aula. "As meninas estavam
se cortando, mas não sei o motivo, e me chamaram para participar. Elas
usavam lâminas do apontador e ficavam se cortando dentro da sala ou
pegavam de casa e traziam para cá. Eu fiz duas vezes, mas já parei. Na
minha sala, ninguém mais está fazendo, mas eu sei de meninas do 6º ano C
que ainda estão", fala.
Outra mãe, que também preferiu não se identificar, diz que a filha de 11
anos se cortou uma única vez com a tampa da caneta. O caso ocorreu há
quase um mês. A filha também cursa o 6º ano.
"Ela falou que tinha raspado com a tampa de caneta. O que a minha filha
me falou é que uns meninos maiores tinham feito um desafio dizendo que
elas não tinham coragem de fazer aquilo. Então, elas fizeram para
mostrar que tinham coragem", conta.
A terceira mãe afirma que decidiu retirar a filha do colégio com medo
que ela começasse a se cortar. "Minha filha não se envolveu nisso porque
eu resolvi retirá-la da escola, mas as meninas da sala dela estavam se
cortando", disse.
Ela conta que descobriu sobre as mutilações após ver uma foto no perfil
de um aplicativo da filha. "Ela colocou uma foto do braço de uma menina
no perfil do Whatsapp. Nós conversamos e ela me contou o que estava
acontecendo. Disse que tinha vontade de fazer, mas não dizia o motivo.
Isso me preocupou muito, então resolvi tirá-la do colégio", fala.
Direção da escola diz que está acompanhando o caso
De
acordo com a direção do colégio, o número de crianças que estariam se
automutilando é menor do que o apontado pelas mães. "Entre 450
adolescentes que temos pela manhã, temos conhecimento que quatro que
fazem isso", afirma a diretora Vaneide Braga Marim.
Ela desconhece o 'pacto de sangue' e afirma que as jovens estão se
automutilando em casa. A pedido dos pais, a escola pretende fechar
parceria com uma universidade para que possa oferecer palestras com
psicólogos para as mães e as adolescentes.
"As mães trouxeram a sugestão de um psicólogo, para ver como poderiam
ajudar. Estamos com o documento pronto, apenas aguardando que a
faculdade nos diga como se dará a parceria. A nossa sugestão é que eles
façam palestras com a presença das mães, sobre como lidar com problemas
de adolescentes, a questão do corte e do bullying", diz.
A mãe reclama, no entanto, que a escola estaria demorando muito para
contatar o psicólogo. "Ontem fez 15 dias que procuramos a escola. Desde
então esse documento não passou de um simples rascunho. Isso aí tem que
ser investigado, eu tenho uma relação de 10 crianças que estão fazendo
isso e ela fica falando que são casos isolados", afirma. Ela nega
também que as filhas estejam se cortando em casa. "Na minha casa elas
não fazem", assegura.
A
escola afirma não ter conhecimento das jovens continuarem se cortando,
mas ressalta que os pais devem prestar atenção nos filhos para que os
casos não voltem a ocorrer. "Nós pedimos para as mães tenham um pouco de
cuidado em casa, observem se os filhos estão praticando isso em casa.
Tem que ficar mais vigilante", afirma a diretora Vaneide Braga.
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